O projeto de terceirização do trabalho é mero expediente de redução de salário por duas razões básicas. Quem terceiriza quer reduzir custos, portanto, aumentar seus ganhos. Segundo, quem absorve a terceirização também o faz para obtenção de lucros, pois não a realiza por filantropia. Essas duas razões só podem ser atendidas pela diferença entre o salário pago antes e o pago após a terceirização. Argumenta-se que a maior produtividade cobriria desejos de lucros maiores sem afetar o trabalho, porém só custos maiores levam a aumentar a produtividade como forma de defesa dos lucros e, no caso, o que está sendo buscado são pura e simplesmente custos menores.
Não há justiça em manter direitos e reduzir salários, o que torna a medida retrógrada e contra o desenvolvimento nacional. Só em sociedades atrasadas, os maiores lucros se fazem com redução de salários. Nas evoluídas, o caminho é o dos ganhos de produtividade, dos avanços tecnológicos e da maior eficiência produtiva.
Nosso atraso não decorre de nenhuma fatalidade, mas da baixíssima produtividade econômica – menos de um terço do que a dos países de vanguarda – decorrente do baixo custo-trabalho e da desproteção da economia nacional em competição com as mais avançadas. Os recentes traços de desindustrialização do Brasil mostram nossa despreocupação com o futuro e as gerações que estão vindo e nossa conformidade com o atraso insuperável.
Medidas como terceirização visam a dificuldades isoladas e conjunturais a favor de uns e em detrimento de muitos, mesmo que sejam maiorias absolutas. Ignora-se o panorama geral e de médio e longo prazos do país a favor de conjunturas passageiras, abrindo mão de um projeto contendo linhas de independência e de um passado colonial-escravista. Essa terceirização é distração de afogado e prejudica os rumos e o pensar de uma classe empresarial a favor de si e do país.
A resistência em aceitar essas verdades impõe o preço de não vencermos as distâncias sociais internas e externas que o país apresenta.