Notícias CEAPE

Renegociação dará fôlego agora, mas elevará dívida do RS

Leia entrevista de Josué Martins para ZH sobre renegociação da dívida gaúcha

Escrito por Juliana Bublitz para Zero Hora07 de Abr de 2017 às 13:51
Notícias CEAPE
.
 
 

Acesse aqui a entrevista com o Secretário estadual da Fazenda, Giovani Feltes.

Acesse aqui a entrevista com o Presidente do CEAPE - Sindicato, Josué Martins. 

Possível adesão ao plano de recuperação fiscal ajudará o governo gaúcho no curto prazo. Contudo, a Secretaria da Fazenda reconhece, em estimativa preliminar, que passivo pode subir cerca de R$ 10,5 bilhões

Tratada como boia de salvação pelo governador José Ivo Sartori, a possível adesão do Estado ao plano de recuperação fiscal em discussão no Congresso terá um preço a ser pago no futuro.

A Secretaria da Fazenda reconhece que o fôlego propiciado por três anos de carência no pagamento da dívida com a União representará, ao final do período, aumento de R$ 10,5 bilhões no passivo – que em dezembro de 2016 atingiu marca de R$ 57,5 bilhões, equivalente a 86,7% da dívida da administração direta, de R$ 66,25 bilhões.

Titular da pasta, Giovani Feltes admite o ônus, mas diz que não há saída. Sem o socorro federal, o secretário afirma que os salários dos servidores do Poder Executivo continuarão sendo parcelados e que o quadro financeiro tende a piorar, apesar dos esforços para conter os gastos. 

– É a melhor solução para o Rio Grande do Sul? Definitivamente, não. Mas é a alternativa possível. Estamos no limite – afirma Feltes.

O governo argumenta que, como terá R$ 9,5 bilhões das parcelas não pagas à União para utilizar, o encargo adicional decorrerá de juro e correção, no valor de cerca de R$ 1 bilhão.

Entidades contrárias à adesão, como o Sindicato de Auditores Públicos Externos do Tribunal de Contas do Estado (Ceape-Sindicato), projetam endividamento maior – de R$ 16 bilhões. O cálculo não se resume ao efeito dos juros e da correção sobre o saldo devedor nos 36 meses de suspensão. Inclui, também, o impacto da ampliação do prazo de pagamento em 20 anos, sancionada em dezembro. Na avaliação do presidente do Ceape-Sindicato, Josué Martins, a dúvida sobre o valor exato da conta é "irrelevante" diante do que ele classifica como "questão de fundo":

– Na prática, a dívida já foi paga. É isso que deveria estar sendo discutido. Essa negociação com a União só vai consolidar e aumentar o saldo.

A decisão de Sartori de aderir à proposta, que implica uma série de contrapartidas, é classificada como "inadmissível" pelo presidente do Sindicato dos Técnicos Tributários da Receita Estadual, Carlos de Martini Duarte.

– A União está agindo como aquelas financiadoras que oferecem crédito para negativados. As condições, nesses casos, são péssimas. Aceitar é abraçar o diabo – conclui o sindicalista.

Tanto Martins quanto Duarte consideram o plano em gestação "pior" do que o acordo assinado em 1998, durante o governo de Antônio Britto (PMDB), que federalizou a dívida. A opinião é compartilhada pelo deputado estadual Luis Augusto Lara (PTB), um dos principais críticos do plano.

– Vão nos jogar nas garras de um contrato leonino, que só vai servir para resolver o governo Sartori. E depois? Prorrogar a carência por mais três anos e aumentar ainda mais a dívida? Isso não serve – diz.

Uma das alternativas, segundo ele, seria exigir a compensação pelas perdas da Lei Kandir, principal responsável pelas renúncias fiscais de Estados exportadores, estimadas em mais de R$ 40 bilhões no caso do Rio Grande do Sul. A concretização dessa hipótese, no entanto, é considerada remota.

– Essa história da Lei Kandir não passa de uma miragem. Não está escrito em lugar nenhum que o ressarcimento deve ser integral. A lei nem regulamentada está – ressalta Darcy Carvalho dos Santos, especialista em finanças públicas.

Como o economista Liderau dos Santos Marques Junior, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Darcy concorda que o governo terá um ônus se aceitar o auxílio federal, mas também não vê opção no curto prazo.

– O Estado é um doente em fase terminal. Se não fizer nada, morre. Se fizer o tratamento imediato, que é aderir a esse plano, tem alguma possibilidade de se salvar. É uma troca da morte certa por uma morte provável, com chances de não morrer e de viver por muitos anos – analisa Darcy.

O ideal, segundo Liderau, seria o Piratini poder negociar em melhores condições com o poder central, o que ocorreria se o Brasil tivesse uma lei de falência para Estados e municípios, tal qual os Estados Unidos. Como não é esse o caso, o economista também não vê caminho diferente, mas tem dúvidas se Sartori terá força política para levar a intenção adiante, já que precisará do aval da Assembleia e enfrenta a fragmentação da base aliada.

Um dos maiores entraves, no momento, é a aprovação da proposta de emenda à Constituição que extingue a necessidade de plebiscito para a privatização da CEEE, da Companhia Riograndense de Mineração (CRM) e da Sulgás, ativos que seriam oferecidos como contrapartida.

– É uma proposta dura, que exige um esforço fiscal enorme do Estado, por anos, e medidas de desestatização. Ao mesmo tempo, apesar de todo o ônus envolvido, é necessária, se quisermos resolver os problemas – avalia Liderau.

Cálculos de impacto

O passivo com a União
Representa 86,7% da dívida da administração direta de R$ 66,25 bilhões, que também é composta por débitos externos (13%) e outros. Em 31 de dezembro de 2016, chegou a R$ 57,5 bilhões.

O fôlego e o preço a pagar
Ao aderir ao socorro federal e receber carência de três anos no pagamento da dívida com União, o Estado terá fôlego de R$ 9,5 bilhões no período.

O dinheiro será usado para pagar em dia servidores, terceirizados e fornecedores, diz o Piratini.

Enquanto isso, a dívida seguirá crescendo, com juro de 4% ao ano e correção pelo IPCA, limitado à taxa Selic.

As projeções de custo
Segundo estimativa preliminar da Secretaria da Fazenda, a dívida com a União deverá ser de R$ 56,2 bilhões em 30 de abril. O valor é menor do que em dezembro, devido à alteração do indexador e a redução do juro, aprovadas no fim do ano.

Se o RS aderir ao plano de recuperação, a dívida poderá chegar a R$ 73,5 bilhões em 2020, considerando IPCA de 4,5% ao ano.

Se não aderir, o valor também vai crescer, mas em menor ritmo, chegando a R$ 63 bilhões na data, já que o Estado continuará pagando as parcelas.

Conforme a Fazenda, a dívida subirá R$ 10,5 bilhões. Mas, para o órgão, o custo adicional decorrerá só de juro e correção, estimado em R$ 1 bilhão (R$ 10,5 bilhões menos R$ 9,5 bilhões que o RS pagaria mesmo sem o novo acordo com a União).

Com base em critérios diferentes, o Sindicato de Auditores Públicos Externos do Tribunal de Contas do Estado projeta impacto de R$ 16 bilhões.

Essa estimativa considera a carência de três anos e o IPCA a 4,5% ao ano, mais juro de 4%, além da ampliação do prazo de pagamento em 20 anos, aprovada em 2016, com a correção do saldo devedor.

A Fazenda argumenta que o prolongamento do prazo não tem relação com o plano de recuperação. Por isso, não inclui o item no cálculo.

Plano polêmico

A votação do projeto de lei que cria o Regime de Recuperação Fiscal foi adiada mais uma vez ontem, na Câmara dos Deputados. Ficou para a próxima semana.

Em fevereiro, a União enviou à Câmara dos Deputados projeto de lei que institui o Regime de Recuperação Fiscal dos Estados e do Distrito Federal.

A proposta servirá de base para os planos de socorro financeiro dos Estados, entre eles o Rio Grande do Sul.

Em troca da suspensão do pagamento da dívida com a União pelo período de três anos, prorrogáveis por mais três, e da viabilização de novos financiamentos, há uma série de contrapartidas.

As exigências incluíam, inicialmente, privatização de empresas dos setores financeiro, de energia e de saneamento, redução de 20% dos incentivos fiscais e desistência em ações que questionem a dívida na Justiça, entre outros pontos.

O Piratini considerou parte das exigências excessivas e passou a defender alterações no projeto, cuja votação vem sendo adiada há duas semanas.

Nesta quarta-feira, o Piratini conseguiu obter a alteração de dois pontos do projeto: que a redução de incentivos seja de 10%, e não de 20%, e que as privatizações incluam outras áreas (como imóveis).

A expectativa do Piratini é de aderir ao plano no mês de maio, porém isso ainda dependerá da aprovação no Congresso e da chancela da Assembleia.

O Piratini também precisa privatizar órgãos públicos (como CEEE, CRM e Sulgás), mas, até agora, não tem aval para isso.

   

 

Mais Noticias

Utilizamos cookies para oferecer melhor experiência, melhorar o desempenho, analisar como você interage em nosso site e personalizar conteúdo.

Política de Privacidade