O Prêmio Nobel de Economia de 2024 foi outorgado aos economistas Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson pelos seus estudos sobre progresso e desenvolvimento econômico dos países. O primeiro é da Turquia e os demais são ingleses, todos professores de economia.
O trabalho deles procurou analisar a importância das instituições públicas e o papel da colonização europeia nos países a partir do século XVI e seus efeitos. Este tema já foi objeto de análise na obra A Riqueza das Nações de 1776 escrita pelo economista escocês Adam Smith (1723-1790).
Acemoglu e Robinson já haviam publicado em 2012 “Por que as Nações Fracassam” (Ed. Intrínseca, 565 p.), onde analisavam as questões do desenvolvimento econômico assimétrico enfatizando a importância do livre mercado, mas olvidaram de observar as relações de dominação e exploração que predominaram no século XIX e meados do século XX, quando ocorreu brutal saque de recursos naturais dos países periféricos em favor das metrópoles.
Agora vem a lume “Poder e Progresso” (Ed. Objetiva, 519 p) de Acemoglu e Johnson. A partir de um escopo de observação de mil anos, os autores demonstram que o progresso social depende dos avanços que se faz em novas tecnologias de produção.
Segundo eles, a riqueza gerada pelos avanços técnicos no setor primário da economia (agricultura, pecuária, etc) durante a Idade Média foi apropriada principalmente pela burguesia rural (proprietários da terra), enquanto os camponeses recebiam salários miseráveis e tinham baixa expectativa de vida. Na Inglaterra, durante a revolução industrial e até o final do século XIX, os operários tinham péssima remuneração, longas jornadas de trabalho, cobertura previdenciária praticamente nula, enquanto a burguesia industrial acumulava capital.
No outro lado no Atlântico, nos EUA, Alexander Hamilton (1755-1804) escreveu o famoso Relatório sobre a Manufatura de 1791, mostrando a importância da criação de novas tecnologias para o desenvolvimento econômico.
Uma questão interessante trata das grandes navegações. Espanha e Portugal estiveram na vanguarda das conquistas marítimas a partir do século XV. Mas depois perderam a supremacia para os ingleses. Qual a razão desta perda de hegemonia? Os avanços tecnológicos desenvolvidos pelos navegadores ingleses.
Nesta obra, os autores avaliam hodiernamente o impacto da inteligência artificial, como tecnologia de produção, sobre a redução de empregos, automação indiscriminada dos serviços, risco à democracia, coleta maciça de dados e da invasão de privacidade, entre outros pontos. No sentido de que toda a população vai ser cadastrada e codificada como elemento pró-sistema de dominação. Mais ou menos o que George Orwell (1903-1950) teorizou na obra 1984 (ano de lançamento foi 1949) quando toda uma sociedade é controlada por uma instituição privada que defende apenas seus interesses imediatos em detrimento da população em geral.
Hoje, grandes corporações multinacionais visam cortar custos de produção para maximizar o lucro, mesmo que isto implique em aumento do desemprego. A Nike americana, fabricante de material esportivo, não tem nenhuma fábrica dentro do território americano. A maior parte de suas fábricas estão na Ásia e América do Sul onde o custo operário-hora é bem menor. Só no Vietnã são 65 unidades.
A obra alerta que as redes sociais (Facebook, Google, Instagram, Twitter, entre outras) controlam metadados (ou seja, itens nucleares de uma comunicação) de modo a permitir ou não o fluxo da mensagem conforme ela seja de interesse do núcleo de poder privado dominante, que por sua vez controla o poder público e a sociedade. Ou seja, extinção do livre pensamento e da democracia.
Por causa deste fato, ocorre um viés antidemocrático das redes sociais de modo que somente o que for de interesse do núcleo de poder pode ser divulgado, e o que for desinteressante é imediatamente abortado.
Basta observar:
A tragédia é que a IA está minando a democracia quando mais precisamos dela. A menos que sua orientação seja fundamentalmente alterada, as tecnologias digitais continuarão a fomentar e marginalizar amplos segmentos da força de trabalho no ocidente e cada vez mais no mundo todo. As tecnologias de IA estão sendo usadas para monitorar mais intensivamente os trabalhadores e, com isso, achatar ainda mais os salários (p.380)
Os autores ainda enfatizam a questão preocupante da formação de monopólios e a incapacidade dos governos de aplicar leis antitruste de forma efetiva até por que porque os governos são controlados pelas grandes corporações privadas. Isso ocorre hoje com as redes sociais, setor bancário, siderurgia e empresas de transporte entre outros. Fato que ocorria no passado, conforme exposto na obra:
Os barões ladrões, como ficaram conhecidos os magnatas mais famosos e inescrupulosos, fizeram vastas fortunas não apenas por sua engenhosidade em introduzir novas tecnologias, mas também por comprarem a concorrência. As conexões políticas foram igualmente importantes na luta por dominar seus setores (p. 383).
Os onze capítulos do livro são um passeio pela história econômica mundial que, em uma leitura agradável, apresentam fatos fascinantes bem como contradições do capitalismo do século XXI. Ao lado da internet 5G e dos carros elétricos cerca de 1,3 bilhão de pessoas no planeta vivem em condição de pobreza, (1,3 bilhão de pessoas vivem na pobreza; grupos étnicos e mulheres são os mais afetados | ONU News) vivendo com menos de US 3,00/ao dia.
Enquanto alguns países conseguiram escapar da renda média trilhando um caminho de sucesso econômico redistributivo de renda como a Coréia do Sul, outros países ainda permanecem na estagnação e agravamento da pobreza como Haiti, Angola, Etiópia entre outros.
A conclusão final é a necessidade urgente de se aumentar a qualificação da mão-de-obra (investimento em educação) para gerar ganhos de produtividade, aumento de renda média e expansão da economia de escala. Bem como normas públicas regulamentares mais efetivas no combate aos monopólios e fortalecimento da concorrência.
O desenvolvimento econômico só é efetivo se for redistributivo de renda e redutor da pobreza, ou seja, se a sociedade como um todo se beneficiar dos avanços tecnológicos. Do contrário, ele é um fracasso.
A obra Poder e Progresso desnuda os mitos e revela os fatos históricos de forma bem clara. Leitura super recomendada.
Economista, Bacharel em Direito, Mestre em Educação, Auditor estadual, Professor e Escritor
(jntzjr@gmail.com)