Enquanto os EUA vetam a compra da Lattice (empresa de componentes eletrônicos) pela China e o Brasil hesita na permissão para que grupos estrangeiros façam um enclave na Amazônia para explorar minérios, o mundo todo dá sinal de que o nacionalismo de Trump não é caso isolado. A China, maior parceiro comercial do Brasil, está interessada em aeroportos, portos e empresas elétricas. Mas nem tais filés de primeira a fazem condescendente: questionam dumping no frango e estabelecem cota ao açúcar brasileiro, responsável por quase 50% do consumo chinês. A soja está no jogo. O chavão que o comércio internacional é uma avenida de mão dupla ficou para os manuais desatualizados.
Enquanto isso, pouco progridem as negociações sobre livre-comércio do Mercosul com a União Europeia (UE) nesta semana em Brasília. Esta exige mercados abertos para ela, mas não pretende afrouxar a reserva de mercado para seus produtos agrícolas. A ideia inicial era alinhavar um acordo para a reunião da Organização Mundial do Comércio em dezembro, em Buenos Aires, mas parece avançar pouco.
Tradicionalmente, a França era o país que mais resistia a abrir seus mercados. Agora, quem diria, até a Alemanha, segundo maior exportador mundial de bens intensivos em tecnologia, soma-se ao clube e passa a exigir todos os produtos in natura; a agregação de valor do beneficiamento deve ficar com a UE. Lembram como a Alemanha tratava a Grécia, com exigências draconianas em nome do cumprimento de contratos e do liberalismo? Pois agora concorda com cotas para etanol, açúcar, carne bovina e frango, sem contar as barreiras sanitárias. Reserva de mercado é condenável para os outros, para eles é direito natural. Não é de estranhar que os maiores produtores de chocolate e café solúvel sejam europeus que nunca viram um pé de café ou de cacau.
O comportamento desses países não é novidade, o que surpreende é o endurecimento nas negociações. A América Latina encontra-se em momento de fragilidade, com baixo poder de barganha. Suas maiores economias – Brasil, México e Argentina – mostram-se frustradas, num tipo de neoliberalismo tardio, pois é coetâneo a um mundo que se fecha. E essa era está apenas começando.