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Os mistérios do câmbio

Artigo de Delfim Netto para Carta Capital

Escrito por Delfim Netto para Carta Capital07 de Abr de 2017 às 13:50
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Delfim Netto /Roosewelt-Pinheiro-ABr.
 
 

Nos últimos 170 anos, ficou cada vez mais evidente que a organização capitalista, apesar de eficiente, tem graves problemas. Keynes os resumiu, há 80 anos, ao reconhecer que a sociedade em que vivemos é incapaz de manter o pleno emprego e gera uma arbitrária distribuição da renda e da riqueza.

Boa parte dessas dificuldades deriva do chamado trilema, que já era amplamente reconhecido, em torno de 1920, nos trabalhos da Liga das Nações e ficou ainda mais visível nas discussões da Conferência de Bretton Woods, em 1944, onde se criou o Fundo Monetário Internacional.

O que afirma o trilema? Que nenhum país pode, simultaneamente, ter três condições: 1. Uma política monetária independente, necessária para o controle macroeconômico de seu sistema econômico. 2. Uma taxa de câmbio fixa, conveniente para o comércio. 3. O livre movimento de capitais, sobre cujos benefícios sempre houve dúvidas.

Concretamente, ele afirma que uma dessas três condições deve ser sacrificada para a estabilidade do funcionamento de qualquer sistema econômico.

O que se sacrificou no primeiro acordo de Bretton Woods, por insistência de Keynes? A liberdade de movimento de capitais, restrição que vigorou até 1958. Cada país exerceria a política monetária mais conveniente ao seu nível de atividade, as taxas de câmbio seriam fixas e reajustáveis sob o controle do FMI. As moedas seriam livremente conversíveis para todas as transações correntes, mas os governos poderiam opor restrições às operações puramente financeiras.

A delegação americana recusou a proposta de Keynes de criar uma moeda internacional (o Bancor, que, emitido pelo FMI, controlaria os excessos dos países credores e devedores), provavelmente porque Harry White, economista-chefe do Tesouro, estava a serviço do seu sistema financeiro, que temia perder a hegemonia mundial adquirida durante a Guerra.

Estabeleceu-se, de fato, uma espécie de fixed-rate dollar standard, no qual os Estados Unidos se comprometeram a manter fixa a paridade do dólar com o ouro. As outras N-1 moedas teriam o seu valor referido a ele.


A taxa e câmbio já atinge ao setor agrícola, que, por outro lado, sofre com a falta de investimento no setor de transporte (Shahnoor Habib Munmun)


Em 1960, Robert Triffin, em um livro sensacional, pôs a nu o paradoxo do sistema e colocou em dúvida a sua sustentabilidade. De fato, em 1971, o presidente Nixon desvalorizou o dólar em 8,5%, o que desencadeou reações na Alemanha, na Suíça e na Holanda, que deixou suas moedas flutuarem e não houve mais condições de fazer Bretton Woods funcionar.
Dois anos depois, em 1973, os EUA fizeram outra desvalorização de 10% e deixaram o dólar flutuar. Bretton Woods estava morto, mas o dólar americano continuou a ser a moeda reserva internacional!

Em relação à taxa de câmbio, é preciso distinguir claramente o seu papel quando ela se refere ao equilíbrio comercial, sem a liberdade de movimento de capitais, e quando há liberdade de movimento de capitais.

No primeiro caso, ela é um preço relativo que equilibra, em uma unidade de tempo convencional, o fluxo do valor das exportações (quantidade exportada multiplicada pelo preço nacional externo) com o valor das importações (quantidade importante multiplicada pelo preço externo).

É um parâmetro que controla a criação e destruição de emprego e o crescimento do PIB. No segundo (isto é, quando há liberdade de movimento de capitais), ela assume o papel de um ativo financeiro que depende do diferencial de juro real interno e o externo. É completamente insensível à criação ou destruição do emprego.

Serve à especulação do sistema financeiro internacional, mas não à economia real, a ponto de chamarmos hoje, no Brasil, de “investimento” a entrada de recursos tomados lá fora a 1% ao ano e remunerados, na Bovespa, nos últimos 14 meses, a 4,9% ao mês, graças à flutuação da nossa taxa de câmbio, mesmo porque a falta do nosso grau de investimento impede a aplicação a longo prazo.

Ela ameaça a tênue recuperação industrial e já atinge o setor agrícola, que, apesar de bons preços externos, enfrenta a falta de investimento no setor de transporte. Alguém ainda duvida que quem conduz a política monetária brasileira é o Fed?

   

 

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