O Estado de S. Paulo - 04/03/2013 |
O governo precisará de muitos recursos, neste ano, para tentar estimular a economia e preparar o terreno para 2014. A colocação de títulos é uma das peças-chave para captar recursos, pois, com a dívida bem administrada, em patamares razoáveis, há compradores fiéis para os papéis, como fundos estatais e de previdência. A dívida mobiliária federal é da ordem de R$ 2 trilhões e seu Plano Anual de Financiamento (PAF), divulgado há alguns dias pelo Tesouro, prevê uma diminuição da parcela corrigida pela taxa Selic (de 21,7%, em 2012, para 14% a 19%, neste ano) e um aumento do peso dos papéis corrigidos pela inflação (de 33,9% para 34% a 37%). O objetivo é estabilizar o custo da dívida, evitando que uma alta da taxa básica de juros traga ônus para o Tesouro Nacional. É o que o governo pretende, não se sabendo até que ponto alcançará as metas - aliás, cumpridas no PAF do ano passado. A decisão de colocar mais títulos corrigidos por índices de preços faz supor que o governo acredita que conseguirá domar as pressões inflacionárias, ainda que estas pareçam bastante fortes neste momento. Essa é uma questão central para manter a qualidade da gestão da dívida. Um dos objetivos do PAF é substituir papéis corrigidos pela Selic por títulos indexados a índices de preços. Mas isso implica risco tanto para o governo, pois, se a inflação não ceder, a dívida custará mais caro do que se ela fosse corrigida pela Selic, como para os tomadores dos papéis. Neste caso, o risco é de que decisões voltadas para baixar a inflação (controle dos preços de energia e derivados de petróleo, por exemplo) provoquem distorções no IPGA, ou seja, no indexador dos papéis. O governo deve evitar o aumento do grau de incerteza, que toma mais difícil a administração da dívida. Não é um problema de curto prazo, mas qualquer deterioração da confiança tende a tornar a dívida mais onerosa. |