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O Último Trem para Paris

Leia artigo do Auditor Público Externo João Neutzling Jr*

Escrito por Joao Neutzling Jr para o Diário Popular / Pelotas03 de Out de 2022 às 16:01
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Livro da década de 80 reúne palestras de seminário sobre alternativas para o país sair da crise econômica.
 
 

Na década de 1980 o economista João Paulo dos Reis Veloso (1931-2019) organizou um seminário sobre desenvolvimento econômico na Fundação Getúlio Vargas – FGV no Rio de Janeiro para tratar de alternativas para o país sair da crise econômica. As palestras foram reunidas no livro “O último trem para Paris” publicado em 1986 pela editora Nova Fronteira.

O “último trem para Paris” é um eufemismo onde se procura mostrar a última chance do país deixar de ser uma nação de terceiro mundo para ingressar no rol das nações mais ricas (o clube do primeiro mundo). E o que falta hoje para o Brasil pegar o último trem para Paris? Uma grande revolução na educação nacional e aumento do investimento em pesquisa científica para desenvolvimento de novos produtos.
Na última avaliação do PISA (International Student Assessment Program ou Programa Internacional de Avaliação de Alunos) o Brasil ficou na 72ª posição no desempenho dos estudantes em matemática, o líder? China!
Para o país avançar na educação básica o país deveria imitar (e adaptar) as práticas educacionais de sucesso de Cingapura, Hong Kong, Coreia do Sul entre outros, que são os países com os melhores indicadores de educação do planeta. Entre as práticas de sucesso estão a constante atualização curricular e ótima remuneração para atrair os melhores professores. Além de sempre conciliar a teoria da aula com a prática efetiva dos conhecimentos ensinados.
No ensino superior o Brasil tem desempenho triste. Apenas 21% dos brasileiros de 25 a 34 anos têm diploma universitário, índice inferior a países como México (23%), Costa Rica (28%) e Colômbia (29%). A média da OCDE é de 44% e na Coreia do Sul é de 70%!
Na pós-graduação o cenário é desolador.
O Brasil tem 8,5 doutores para cada 100 mil habitantes enquanto a Inglaterra tem 41 doutores/100 mil hab.
Relatório recente da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostrou que apenas 0,8% das pessoas de 25 a 64 anos no Brasil concluíram o mestrado. A média dos países da OCDE é 16 vezes maior: 13% das pessoas nessa faixa etária têm mestrado.
No doutorado, a diferença é de 5,5 vezes. Apenas 0,2% dos adultos no Brasil alcançaram o doutorado. A média da OCDE de 1,1%.
E o atual desgoverno federal continua a desestimular novos pesquisadores pois após anos de congelamento, as bolsas da Capes e do CNPq (para doutorandos) atingiram, em 2022, o menor valor real em três décadas. Em 1995, um bolsista de doutorado recebia R$ 1.073, o que correspondia a dez salários mínimos da época. Em 2022, o valor nominal chegou a R$ 2,2 mil, o que equivalia a 1,8 salários mínimos. A defasagem hoje é de mais de 67%. Isso desestimula novos pesquisadores, sem pesquisa não existe desenvolvimento científico!
Em 2020 o orçamento da CAPES foi reduzido pela metade e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) teve um corte de 87% da verba de fomento à pesquisa em 2021.
Enquanto o país não avançar no desempenho do ensino fundamental/médio e na pesquisa científica vamos continuar estagnados no terceiro mundo.
Bem longe de Paris.


*Auditor Público Externo do TCE-RS, bacharel em Economia,
Mestre em Educação e Professor.
jntzjr@gmail.com

   

 

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