Em agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), que é a taxa de juros básica da economia, para 13,75%%. Ou seja, um aumento de 115% desde o início do atual governo, em 2019, quando a taxa era de 6,40%.
Em janeiro de 2019, a taxa de desemprego era de 12% da População Economicamente Ativa (PEA) e hoje está em 11,1%. A inflação (IPCA) em 2019 foi de 4,52% a.a. e a taxa anualizada de 2022 está em 11,89%. Portanto, o aumento na taxa de juros, ao longo do tempo, não reduziu a taxa de inflação e ainda manteve elevada a taxa de desemprego.
Existem dois tipos clássicos de inflação: inflação de demanda, que ocorre quando existe aquecimento excessivo da demanda agregada de bens /serviços e o setor produtivo não consegue aumentar a produção no curto prazo. E a inflação de oferta – ou de custos – quando ocorre aumento nos custos de produção que, repassados para os preços, geralmente ocorre em mercados não concorrenciais.
O Brasil tem hoje mais de 11 milhões de desempregados, além de um enorme contingente humano em empregos precários. Isso implica a escassez de demanda efetiva por falta de emprego/renda da população. Logo, não pode haver inflação de demanda que justifique o aumento dos juros quando o país passa por uma recessão.
A inflação hoje é de custos em decorrência da elevada taxa de câmbio que encarece toda a pauta de importações – fertilizantes, adubos, petróleo, trigo e até medicamentos – e pela interrupção nas cadeias de suprimentos por causa da pandemia.
Assim, taxa de juros mais baixa facilita acesso ao crédito industrial para que as empresas possam aumentar a produção de bens manufaturados, bem como facilita o crédito ao consumidor estimulando aumento no consumo gerando um ciclo de crescimento econômico saudável e reduzindo o desemprego.
A maior taxa Selic vai criar uma despesa financeira nos próximos doze meses beneficiando o mercado de renda fixa. O
aumento na taxa de juros em época de desemprego é uma medida ineficaz.
João Neutzling Jr é rconomista, professor, mestre em Educação e Auditor do Tribunal de Contas do Estado – TCE RS