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Homenagem do CEAPE TCE-RS às mulheres

Escrito por Ceape TCE/RS13 de Jun de 2012 às 09:33
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Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o CEAPE publica, na íntegra, o depoimento da Auditora Pública Externa e Diretora Administrativa da entidade, Renata Balbueno, que foi ao ar no programa “Controle em Foco” dessa segunda-feira, 5.


“Quando o Amauri me convidou para vir conversar com vocês, aqui neste espaço, na condição de dirigente sindical,  para alusão ao 8 de março, imediatamente pensei: vamos tratar de diferenças e vamos falar de lutas.

Não vim falar daquele dia 8 de março, em meados do século 19, em que mais de uma centena de mulheres morreu por reivindicar igualdade, respeito e melhores condições de trabalho.
Vim falar um pouco de uma experiência de vida, de diferenças, de lutas, explícitas ou veladas, nas questões de gênero mas, principalmente, nas questões de GENTE.

Claro, vim falar da minha própria vida... que é o que tenho de mais rico pra trazer pra vocês.
Meu nascimento foi planejado. Não era usual na década de 60, mas o fui. Minha mãe dera à luz, dois anos antes, ao primogênito. Primeiro filho, primeiro neto de ambas as famílias. Um varão! Pronto, cumprida a obrigação social.

Fui querida e o acaso satisfez a vontade de minha mãe: uma menina para formar o casal.

A ausência de vaidade física pessoal da minha mãe me concedeu a igualdade no tratamento visual: não vestia rosa, não usava brinco, tinha cabelo curto, batidinho na cabeça, reflexo da moda e do pragmático gênio materno e que tantos sofrimentos me poupou: foram poucas as lágrimas oriundas do desembaraçar dos delgados fios que me cobrem a cabeça.

E foi esta igualdade, coerentemente mantida também em relação aos direitos e deveres da prole, que me fez ver as pessoas sem classificá-las pelo gênero, ou pela cor, ou por condição física de qualquer natureza.

Na infância, o primeiro estranhamento: por que os outros achavam que aquela criança suja de terra, sem brincos, sem cabelo comprido, sem vestidinho bordado era um menino? Porque somente a classificação e o enquadramento em categorias, previamente estabelecidas, são uma forma de tranqüilizar nossos inquietos cérebros humanos. Meninos brincam na rua e se sujam; meninas brincam dentro de casa e são limpas e arrumadinhas...

Mas, por outro lado, a escola pública, no interior do Estado, como ocorria na maioria dos colégios públicos urbanos, congregava crianças de classes sociais diversas. Era colégio tradicional, frequentado pela elite da mesma forma que pelas classes menos abastadas. O uniforme ajudava a igualar a gurizada.
Depois, na puberdade, o segundo estranhamento: por que as meninas e os meninos não são amigos? Por que os interesses não são os mesmos? E, aí veio o mais intrigante: por que eu os meus interesses eram tão diversos daqueles das minhas colegas? Tampouco convergiam com os interesses masculinos.

Bem, aí veio um natural processo de recolhimento, o qual só não foi maior pela agradável parceria da Nina que, apesar de processo diverso de formação, nos encontramos iguais, na escola e na rua em que morávamos.

Na idade adulta é o mundo do trabalho que nos traz surpresas.

E minha experiência começou pela igualdade do concurso público. Fora um dos primeiros concursos na UFRGS, após a promulgação da Constituição de 1988.

É claro, a assunção de um cargo público prescinde de uma formação básica, que pressupõe acesso à educação o que, na realidade, é o principal fator de diferenciação dos brasileiros. É o acesso à educação que nos diferencia, e, igualmente, será o acesso à educação que nos poderá aproximar.

Creio que as diversidades de gênero, de raça, de crença e de visão sejam o nosso maior trunfo como nação, que é a realidade brasileira, e como espécie: a diversidade foi o que garantiu nossa existência no planeta. O estudo da evolução, iniciada por Darwin e posteriormente sustentada pela genética, nos mostra que a capacidade de adaptação às mudanças, de qualquer natureza, foi o que nos permitiu sobreviver e evoluir como espécie. Ora, geneticamente se sabe que quanto mais diversa for à variedade cromossômica de uma espécie, tanto mais provável de haver mutações genéticas adaptáveis a bruscas mudanças do ambiente.

Sabe-se que as raças puras de animais são frágeis e com tendências a doenças congênitas. Quem cria gado, cachorro ou qualquer animal de raça sabe que vez por outra há necessidade de introdução de novos genes, para impedir a degenerescência da raça: acasalamento entre iguais pode potencializar males que os cruzamentos aleatórios não trariam.

Voltando à questão do gênero e do mundo do trabalho, após o primeiro contato com a área governamental, passei um breve interregno na iniciativa privada, e aí vivi na carne, como se diz, a realidade do mercado: era mais competente que outros técnicos, iniciantes como eu, mas que eram HOMENS, porém... ganhava bem menos do que eles.

Voltei correndo para a área governamental, onde se ingressa nas carreiras em total igualdade de condições. Como, em geral, estatisticamente as mulheres têm se saído melhor nos concursos públicos, e têm mais anos de educação formal, vemos uma grata mudança, ainda que lenta, no perfil do serviço público, inclusive em setores de predominância masculina até poucas décadas atrás, como a Contabilidade.

Tive o privilégio de perceber, nas Auditorias, que os Municípios em que os concursos para os cargos da área contábil/financeira são recentes, a predominância é de mulheres, sendo que em alguns chegam a ultrapassar os 90% dos cargos dessa área. E são profissionais de muita qualidade.

Mas, sim, os cargos de chefia ainda são predominantemente masculinos.

E em relação a esses cargos, também tive o privilégio de uma experiência diferenciada, no Município de Alvorada que, em 2000, em mandato da Stela Farias, em que fui Secretária de Planejamento, tínhamos secretárias mulheres nas principais secretarias, como Saúde, Administração e Planejamento, entre outras. E muitas mulheres em outros cargos de chefia. Foi uma época de trabalho muito colaborativo.

Sem mais delongas, para não aborrecê-los com a minha história, percebo que faz com que as minorias (não as numéricas, mas, digamos, as “desempoderadas”) assim o são quando não têm acesso à educação e às condições básicas de vidas que foram garantidas na nossa Constituição, mas ainda não o foram pelos governos e pela sociedade.

Trabalhamos para que haja um dia que o 8 de março seja recordado em museus, para retratar um tempo passado que já tenha sido superado. E isso somente acontecerá quando a violência contra as diferenças seja abolida do nosso cotidiano. Essa deve ser a nossa luta!

Pra encerrar, vou lembrar uma pequena estrofe da canção Gente do Caetano, que resume um pouco isso tudo: “Gente é pra brilhar, e não pra morrer de fome!”


Obrigada!

   

 

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