O Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) produziu estudo sobre o Ensino Fundamental em Porto Alegre, medindo resultados com dados e indicadores objetivos. Além do que apuramos nas visitas às escolas, cruzamos informações e comparamos indicadores. O ex-prefeito de Porto Alegre, entretanto, criticou o estudo falando em "dados falsos" e sua ex-secretária falou em "diagnóstico com dados equivocados". Será?
O que o TCE-RS constatou é que há extraordinário contraste entre insumos e resultados na educação da capital que é a que mais investe no Brasil, com R$ 15 mil por aluno/ano. Para apreciar o significado disso, bastaria dizer que São Paulo, a segunda colocada, investe 35% menos (R$ 11.473,88 por aluno/ano) e que o valor por aluno em Porto Alegre é superior ao custo de sete das 10 escolas particulares da cidade mais bem colocadas no Enem 2016. Apesar disso, os resultados do município são muito frágeis.
Advertisment
You can close Ad in 1 s
Para a ex-secretária "choca-se com a realidade no diagnóstico a afirmação de que o nível socioeconômico de boa parte dos alunos está entre os mais altos do país, quando sabemos que as 56 escolas são periféricas e atendem um (sic) público pobre e vulnerável". Ora, o TCE não afirmou que os estudantes da rede municipal possuem "alto nível socioeconômico". Comparando os níveis socioeconômicos dos alunos das redes municipais das capitais, vimos que o nível de Porto Alegre está entre os melhores. Vale dizer: a maioria das capitais brasileiras possui alunos ainda mais pobres.
As evidências dos países onde resultados são medidos com indicadores — não com discursos — mostram que fatores extraescolares impactam mais do que a escola no desempenho dos alunos em testes cognitivos. Por isso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) desenvolveu o Indicador de Nível Socioeconômico das Escolas de Educação Básica (Inse), para contextualizar os resultados em suas avaliações. O indicador agrega renda, posse de bens, contratação de serviços pela família e escolaridade dos pais, classificando os estudantes em nove níveis socioeconômicos. Foram esses os dados que utilizamos. Não há equívoco nem falsidade neles, só uma verdade incômoda: o perfil socioeconômico dos alunos da rede municipal de Porto Alegre tem muito a ver com os maus resultados, mas nada a ver com o fato de Porto Alegre possuir resultados muito abaixo das demais capitais brasileiras.