Ontem foi dia de explicações no Congresso. Enquanto no Senado o presidente da Petrobras, Joaquim Luna e Silva, procurava explicar o motivo da disparada dos preços dos combustíveis, na Câmara o ministro da Economia, Paulo Guedes, justificava sua offshore (empresa virtual no Exterior) em paraíso fiscal.
Ambos suportaram bem as baterias de perguntas dos parlamentares - muitas apenas ataques políticos, outras pecaram por falta de informação, mas o despreparo dos congressistas acabou protegendo os depoentes. Luna e Silva fez uma promessa que não pode cumprir, a de que, com a privatização das refinarias, os preços dos combustíveis vão cair.
O tropeço de Guedes foi maior. O ministro que comanda a Receita Federal apresentou na Comissão de Trabalho uma lição de elisão fiscal (quando meios legais são usados para evitar pagar tributos). Não é crime, não é irregular, mas é antiético.
Justificou a abertura da offshore afirmando que foi aconselhado a não fazer investimentos diretos nos Estados Unidos para não ser "expropriado" em 46%. Esse é o imposto pago pelos americanos em caso de herança.
Então, o chefe do chefe do fisco admitiu que dribla o fisco lá fora. É constrangedor, para dizer o mínimo. Mas Guedes expôs sua elisão fiscal com o desassombro dos que acreditam que isso faz parte da vida. E faz. Mas não para um funcionário público que tem sob sua responsabilidade cobrar impostos dos demais contribuintes.
Para apoiar a argumentação de que não "operou" a conta para se beneficiar, Guedes citou seus esforços para aprovar - o que é verdade - a autonomia do Banco Central (BC). Afirmou que, neste modelo, o guardião da moeda é o BC, não o ministro da Economia. Portanto, sustentou que não estava "na sua mão" controlar a cotação do dólar. Precavido, foi o primeiro a citar a famosa frase "se a gente fizer muita besteira, o dólar vai a R$ 5", para depois tentar atribuir a "culpa" da disparada do câmbio à pandemia e até à prisão do ex-presidente Michel Temer.