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A morte de uma guerreira

Escrito por João Neutzling Jr.*13 de Jun de 2024 às 15:50
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O Brasil ficou mais pobre. Dia 08/06 faleceu Maria da Conceição Tavares aos 94 anos. Uma das mais brilhantes economistas que soube dar um diagnóstico preciso da crise econômica nacional bem como formular estratégias para o desenvolvimento econômico redistributivo de renda. Influenciou uma geração de economistas (eu por exemplo), sociólogos e pesquisadores em ciências sociais.
Publicou vários livros e era colunista assídua da Folha de São Paulo e outros jornais. Um de seus clássicos foi “Da substituição de importações ao capitalismo financeiro”, editora Zahar (1972). Obra na qual ela fez uma avaliação bem crítica do modelo de substituição de importações comparando o caso brasileiro com a Coréia do Sul. Neste livro ela também esboça a questão da liberalização do mercado financeiro doméstico e sua internacionalização e perda de autonomia.
Conviveu com gigantes da ciência como Aníbal Pinto (da Comissão Econômica para América Latina da ONU – CEPAL), Celso Furtado, Florestan Fernandes entre tantos outros. Ela abraçou a teoria do estruturalismo da Cepal e suas implicações no processo de desenvolvimento.
Em 1995 elegeu-se deputada federal pelo PT do Rio de Janeiro, cumpriu apenas um mandato e depois confessou-se decepcionada com o plano real de FHC e chegou a discutir com o ministro Pedro Malan onde ela disse que o plano somente beneficiava o setor financeiro e prejudicava o setor produtivo devido ao aumento vertiginoso da taxa SELIC que atingiu mais de 50% aa.
Em 1997 editou com o amigo José Luis Fiori outra obra notável “Poder e Dinheiro”, editora Vozes, onde ela abordou temas como a globalização, hegemonia dos EUA, o papel do Iene no mercado cambial e a ascensão da China, entre outros.
Nesta obra, ela declarava “o desenvolvimento desigual da economia mundial, concebido nos termos da relação centro/periferia, tendia, ao contrário, a se reproduzir sob a égide do livre jogo das forças de mercado”. Ou seja, sem a intervenção do estado não há como se guiar o país em uma via autônoma.
Conceição Tavares foi uma intelectual brilhante, audaciosa que não tinha medo de botar o dedo em riste e defender seus pontos de vista. Foi uma guerreira que lutou por um país mais justo e com menos desigualdade social.
Vai fazer muita falta.



Economista, Bacharel em Direito, Mestre em Educação, Auditor estadual, Professor e escritor.

jntzjr@gmail.com

   

 

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