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50 anos de Gita

Escrito por João Neutzling Jr.*18 de Mar de 2024 às 09:20
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Álbum emblemático na carreira do cantor e compositor está completando 50 anos.
 
 

Poucos músicos brasileiros tiveram uma carreira tão emblemática e psicodélica como o cantor Raul Seixas (1945-1989). Sua obra musical é caracterizada por profunda reflexão filosófica, política e social em um cenário de misticismo e ocultismo.

 

 

 

 

 

 

 

 

Raul já havia gravado alguns discos e depois lançou Krig-ha, Bandolo! (1973), com as pérolas Metamorfose ambulante e Ouro de tolo (música com temática muito crítica dos valores sociais). Mas foi com Gita (se pronuncia guitã), de 1974, há 50 anos, que o músico atingiu o ápice e se firmou na carreira musical O disco vendeu mais de 600 mil cópias e deu o primeiro disco de ouro para Raul. O disco foi gravado pela Philips Records.

O nome do álbum se origina do livro 'Bagavadeguitá', ou canção de Deus, um texto religoso hindu escrito em sânscrito por volta do século IV a.C.,  o que mostra que o Raul compositor mergulhava fundo em livros históricos raros e místicos para compor suas músicas. O que não se vê mais hoje em dia.

A música Gita é uma reflexão sobre a vida humana, a razão de viver e a conexão do homem com o universo. A letra é repleta de simbolismos e referências filosóficas, levando o ouvinte a uma ação reflexiva sobre sua própria vida. O coautor, junto com Raul, é Paulo Coelho, que dispensa apresentações. No início da música, Raul Seixas narra a respeito de uma busca incessante nos “quatro cantos do mundo”, que termina em um encontro, num sonho, com uma entidade espiritual que lhe revela verdades profundas. Ele termina falando sobre “o início, o fim e o meio” sugerindo um ciclo eterno de vida, morte e renascimento, tal como na doutrina espírita de Alan Kardeck. A música Gita foi classificada pela Rolling Stone Brasil entre as cem melhores do país.

Qual músico no Brasil, hoje em dia, tem esta abordagem filosófica e reflexiva na sua obra?

No mesmo disco está a emblemática Sociedade Alternativa onde ele chama por uma mudança social e ainda se refere ao mítico número 666 (número do diabo) lembrando de Alester Crowley, controvertido ocultista inglês. Mas, talvez, uma das mais bonitas músicas do disco é Trem das sete, onde Raul canta de forma melódica uma letra impregnada de esperança e angústia:

Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem
Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon
Ói, já é vem, fumegando, apitando
Chamando os que sabem do trem
Ói, é o trem, não precisa passagem
Nem mesmo bagagem no trem
(...)
Pois o trem está chegando, tá chegando na estação
É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão

Raul gravou vários outros discos, alguns com o mesmo sucesso de Gita, em uma carreira de sucesso cheia de criatividade.

Além do consumo de drogas em escala industrial, Raul era diabético e este somatório de problemas ceifaram sua vida com apenas 44 anos de idade deixando uma legião de fãs entristecidos e o país órfão de um de seus maiores compositores.A música brasileira hoje está impregnada de músicas com apelativa conotação erótica e usa a figura feminina como objeto sexual de prazer e nada mais.
Uma baixaria sem noção. Uma coisa bagaceira mesmo.

E se você não gosta do mestre Raul, problema seu, “toma aqui uns cinquenta reais” e vai passear.


*Economista, Bacharel em Direito, Mestre em Educação, Auditor estadual, Professor e escritor. jntzjr@gmail.com

   

 

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